Uma das maiores empresas brasileiras, a Gurgel, montadora que surgiu nos anos 60 e fez muito sucesso não só no Brasil. Vendeu milhares de veículos, inclusive abrindo montadoras no exterior. Mas como todo brasileiro sabe, empreender na terrinha aqui não é nada fácil e isso não é de hoje.
A prova foi a batalha para fazer um produto nacional e apresentar para o mundo e ainda sim quebrar, graças ao governo e seu descaso com empreendedores daqui. A história que veremos hoje é do engenheiro e empreendedor João Gurgel, fundador de uma das grandes marcas do Brasil. Olha só.
História do Gurgel
Quem viveu um pouco essa época com certeza se lembra desses carros que foram ícones e são lembrados com tanto carinho pelo brasileiro.
A montadora fundada pelo engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel tinha como proposta produzir veículos 100% nacionais. E ele conseguiu, durante os 27 anos que ficou na ativa, a marca vendeu mais de 40 mil veículos. Mas apesar do sucesso, o fim da Gurgel e o seu começo não foram nem um pouco fáceis, digno de filme.
Assim que se formou, em 1949 na Escola Politécnica de São Paulo João Gurgel teve como tema de TCC a produção de um carro genuinamente nacional. Contudo seu orientador disse que “Isto e coisa para multinacionais. Carro não se fabrica, carro, se compra”.
Desanimado o engenheiro quase foi reprovado ao apresentar o projeto chamado Tião, que era um veículo de dois cilindros.
Logo depois de formar-se, ele foi para os Estados Unidos, onde passou pela General Motors Institute, aprendendo como funciona uma linha de produção e uma grande montadora. E, apesar do grande balde de água fria que havia ganho na faculdade, Gurgel não tinha desanimado.
Modelos
E em 1º de setembro de 1969 ele fundou a Gurgel Motores, em Rio Claro, interior de São Paulo. Seu início contou com carros pequenos como Karts e minicarros para crianças. O primeiro modelo foi o Ipanema, o qual usava chassi, motor e suspensão de Volkswagen.
Quatro anos mais tarde vinha o modelo de maior sucesso do empresário, chamado Xavante, pelo de nome você deve conhecer. O Xavante deu inicio a marca, sendo um dos principais veículos durante muito tempo. Porém nem sempre foi chamado por este nome, X10 foi o primeiro. Um carro feito para estradas ruins, trilhas e muita lama.
Essa era a proposta do X10. Logo notava-se que era disso que o veículo gostava, bastava olhar para a sua aparência: estepe no capô, pás nas portas e teto de lona. Era um off-road brasileiro. Diz uma lenda que, existia um taco de baseball na fabrica, que servia para os visitantes bateram no carro. Dizem que o carro não amassava de jeito nenhum.
Além do X10, tinha também o X12, jipe usado pelas forças armadas do Brasil. Mesmo motor do X10, 1,6 litro, único carburador de 49 cavalos de potência com relação de fusca.
O X12 pegava no máximo 108 km/h, indo de 0 a 100 em quase 40 segundos, complicado. Mas o carro não era feito para velocidade, e sim para conseguir superar os desafios dos terrenos difíceis. Era o rei das ruas esburacadas e paralelepípedos, mas não era recomendável abusar das curvas.
Internacional
Um ano depois, em 1974 foi lançado o Itaipu, um dos primeiros carro elétricos. O nome já diz tudo, era referencia a usina hidrelétrica de Itaipu. O minicarro para apenas duas pessoas era moderno para a época. Fácil de estacionar, com duas baterias e 4 faróis.
O engenheiro não parava, pois dois anos depois ele lançou o modelo mais moderno do X12, o X12 TR (teto rígido). O veículo da Gurgel veio com linhas mais retas e um guincho com 25 metros de comprimento. O “camburão” era perfeito para longas viagens e, óbvio, trilhas com estradas precárias.
Pulamos para 1979, onde a Gurgel já fazia sucesso no mundo, e foi fazer sua exposição no famoso Salão do Automóvel de Genebra, na Suíça.
A marca do engenheiro brasileiro fez muito sucesso no evento. Já em 1980 outro elétrico era lançado, dessa vez uma espécie de kombi, a Itaipu E400. Para carregar o veículo, seriam necessárias 7 horas em uma tomada de 220 volts. Silencioso e sem poluir o ar, logo nosso carro automático foi vendido para algumas empresas para testes.
Juntamento do Itaipu E400, em 1979 o furgão X15 também saíra para o público. Este numa faixa de preço um pouco mais elevado, mas não é para menos, o veículo parecia um carro militar, com janelas e bastante alto. Este modelo da Gurgel poderia levar até 7 pessoas e suportar mais de 500 kg, sendo que também foi vendido para o exército.
O ano de 1981 marcou o lançamento do G15, uma picape com cabine simples. Era parente do X15 mas mais forte, podendo aguentar até 1.000 kg (uma tonelada) de carga. Possuía 70 litros no tanque e posteriormente receberia o modelos de cabine dupla e furgão.
O fim
Entre os anos 1977 e 1978, a Gurgel foi a primeira empresa a exportar veículos. Mais de 25% da sua produção ocorria fora do Brasil. Nesta época mais de 10 carros eram fabricados por dia, tendo como principal produto o veículo X12. Nesta altura, a Gurgel já estava com uma linha de montagem em São Paulo, capital, na avenida paulista.
Em 1991 a empresa bateu seu recorde de vendas, comercializando quase 4 mil carros.
Contudo, em 1992, esse número caiu drasticamente para 1.600 devido a greve de funcionários da alfândega brasileira. Já na década de 90 entrava o governo Collor.
O atual governo abriu as portas para as multinacionais, mas este nem foi o problema. A concorrência melhora a qualidade, porém, o governo dava auxilo para as estrangeiras e não para a Gurgel.
Afundada em dívidas, a empresa brasileira pediu concordata em 1994. A empresa pediu ao governo federal o financiamento de 20 milhões de dólares, mas foi recusado. No final de 94 uma das maiores e genuínas nacionais fechava as portas.
João Augusto Conrado do Amaral Gurgel faleceu do dia 30 de janeiro de 2009, em São Paulo. Ele sofria do mal de Alzheimer havia 8 anos. Em 2003 a sua marca, Gurgel, expirava, sendo então comprada pelo empresário Paulo Emílio Lemos em 2004. Ele a comprou por R$850,00.
E você, se lembra de algum modelo marcante da Gurgel? Conta aí!